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domingo, 30 de dezembro de 2012

Discurso de Urbano II no Concílio de Clermont

"Acabais de ouvir o enviado dos cristãos do Oriente (São Pedro de Amiens). Ele vos disse da sorte lamentável de Jerusalém e do povo de Deus; ele vos disse de como a cidade do rei dos reis, que transmite aos outros os preceitos de uma fé pura, foi obrigada a servir às superstições dos pagãos; de como o túmulo milagroso, onde a morte não pode conservar sua presa, esse túmulo, fonte da vida futura, sobre o qual surgiu o sol da ressurreição, foi manchado por aqueles que não devem ressuscitar, senão para servir de palha ao fogo eterno. A impiedade vitoriosa espalhou suas trevas nas mais ricas regiões da Ásia: Antióquia, Éfeso, Nicéia, tornaram-se cidades muçulmanas; as hordas bárbaras dos turcos chantaram seus estandartes nas margens do Helesponto, de onde ameaçam todos os países cristãos. Se Deus mesmo, armando contra elas seus filhos, não as detiver em sua marcha triunfante, que nação, que reino, poderá fechar-lhes as portas do Ocidente?"
(...)
"O povo, digno de elogios, esse povo que o Senhor, nosso Deus, abençoou, geme e sucumbe sob o peso dos ultrajes e das exacções mais vergonhosas. A raça dos eleitos sogre indignas perseguições; a raiva ímpia dos sarracenos não respeitou nem as virgens do Senhor, nem o colégio real dos sacerdotes. Eles carregaram de ferros as mãos dos enfermos e dos velhos; crianças arrancadas dos braços maternos esquecem agora entre os bárbaros o nome do verdadeiro Deus; os asilos que esperavam os viajantes pobres na estrada dos santos lugares receberam sob seu teto profanado uma nação perversa; o templo do Senhor foi tratado como um homem infame e os ornamentos do santuário foram arrebatados como escravos. Que vos direi mais? No meio de tantos males, quem poderia reter em suas casas desoladas, os habitantes de Jerusalém, os guardas do Calvário, os servidores e os concidadãos do Homem-Deus. se não se tivesse imposto a eles a lei de receber e de socorrer os peregrinos, se eles não tivessem receio de deixar sem sacerdotes, sem altares, sem cerimônias religiosas uma terra toda coberta ainda pelo sangue de Jesus Cristo?"
(...)
"Ai de nós, meus filhos e meus irmãos, que vivemos nestes dias de calamidades! Viemos então a este século reprovado pelo céu para ver a desolação da cidade santa e para vivermos em paz, quando ela está entregue nas mãos de seus inimigos? Não é preferível morrer na guerra do que suportar por mais tempo esse horrível espetáculo? Choremos todos juntos nossas faltas que armaram a cólera divina; choremos, mas que nossas lágrimas não sejam como a semente lançada sobre a areia e a guerra santa se acenda ao fogo de nosso arrependimento; e o amor de nossos irmãos nos anime ao combate e seja mais forte que a mesma morte, contra os inimigos do povo cristão."
(...)
"Guerreiros que me escutais, vós que procurais sem cessar vãos pretextos de guerra, alegrai-vos pois eis aqui uma guerra legítima: chegou o momento de mostrar se estais animados por uma verdadeira coragem; chegou o momento de expiar tantas violências cometidas no seio da paz, tantas vitórias manchadas pela injustiça. Vós que fostes tantas vezes o terror de vossos concidadãos e que vendíeis por um vil salário vossos braços ao furor de outrem, armados pela espada dos Macabeus, ide defender a casa de Israel, que é a vinha do Senhor dos exércitos. Não se trata mais de vingar as injúrias dos homens, mas as da Divindade; não se trata mais do ataque de uma cidade ou de um castelo, mas da conquista dos santos lugares. Se triunfardes, as bênçãos do céu e os reinos da Ásia serão vosso prêmio; se sucumbirdes, tereis a glória de morrer nos mesmos lugares onde Jesus Cristo morreu e Deus não se esquecerá de que vos viu em sua santa milícia. Que afeições fracas e covardes, sentimentos profanos não vos prendam em vossos lares; soldados do Deus vivo, escutai somente os gemidos de Sião; quebrai todos os liames da terra e lembrai-vos do que o Senhor disse: Aquele que ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; todo aquele que deixar sua casa, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua esposa, ou seus filhos, ou sua propriedade por meu nome será recompensado com o cêntuplo e terá a vida eterna."
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A assembléia dos fiéis, levados por um entusiasmo que jamais a eloquência humana tinha inspirado, ergue-se totalmente e fez ouvir estas palavras: Deus o quer!
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Fonte: Joseph-François Michaud - História das Cruzadas volume 1 páginas 88 a 91

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Curso de Teologia Dogmática - 3ª Aula


CURSO DE TEOLOGIA DOGMÁTICA

 3ª Aula – Da Criação – O mundo material

 (Antes de continuar, é bom que se faça um pequeno registro. As postagens referentes a este curso consistem em um pequenino resumo das aulas ministradas semanalmente aos membros do Grupo São Domingos. Assim, os assuntos tratados nessas aulas, bem longe de serem esgotados, tendem a incutir nos membros o desejo de pesquisas, as quais podem ser feitas usando uma singela coleção de livros disponível ao grupo).

A narrativa do Gênesis é uma síntese histórico-teológica que usa de linguagem popular com o fito de atingir o entendimento das pessoas. Ora, de nada adiantaria se o Espírito Santo inspirasse Moisés a tecer os pormenores de como se deu a criação dos elementos químicos e físicos, a estruturação das moléculas, enfim, a formação detalhada do micro e do macrocosmo, sabendo-se que esse conhecimento não seria aproveitado pelo povo escolhido, já que o objetivo era a sua instrução religiosa. Daí a referência a fenômenos da natureza segundo as suas aparências. E isso vemos em toda a Sagrada Escritura como, por exemplo, é dito que Deus parou o sol para que, prolongando o dia, Josué vencesse uma batalha. Aliás, passagem essa estultamente criticada por Galileu dizendo que Deus não poderia parar o sol já que a terra é que gira. Se assim o fosse devíamos banir de nosso vocabulário expressões como “o sol nasceu”; “o sol se pôs”; etc. Portanto, deve-se ter em mente que há correntemente o uso da linguagem popular não só no Gênesis, mas também em toda a Sagrada Escritura.