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sábado, 7 de abril de 2012

DO TRATADO DE SANTO AGOSTINHO SOBRE OS SALMOS II

Extraído do 2º Noturno de Matinas do Sábado Santo



4ª Lição



“Descerá o homem ao mais fundo do seu coração, mas Deus será glorificado”. Os judeus disseram: quem nos verá? Mas ficaram logrados nos seus planos perversos. Compreendeu o homem Deus os seus planos e deixou-se prender como homem. Se não se tivesse revestido da nossa humanidade, nem os judeus o teriam prendido, nem visto, nem ferido, nem crucificado, nem morto. Submeteu-se, pois, o homem Deus a todos estes trabalhos que nada poderiam com ele, se não fosse homem. Mas se Ele não se fizesse homem, o homem não seria resgatado. Entrou, pois, o homem no fundo do coração, quer dizer, no mais secreto, apresentando-se homem ao olhar dos homens e guardando Deus oculto, dissimulando a divindade pela qual era igual ao Pai e ostentando inferior ao Pai...


5ª Lição



E até onde levaram os seus gorados planos? Até colocarem guardas no túmulo do Senhor, porque, mesmo já morto e sepultado, ainda lhes inspirava medo. Disseram, pois, a Pilatos: “Aquele sedutor”; tratavam assim Nosso Senhor Jesus Cristo, e isto deve servir de consolação para os cristãos, quando os caluniar o mundo; aquele sedutor, disseram, disse quando ainda vivia que havia de ressuscitar depois de três dias. Manda, portanto, guardar a sepultura até ao terceiro dia, não seja que venham os discípulos e o roubem e digam ao povo que ressuscitou e será o último erro pior do que o primeiro. E disse-lhes Pilatos: Tendes guardas, guardai-o como entenderdes. E eles partiram, selaram a pedra do sepulcro, e puseram-lhe guardas...


6ª Lição



Colocaram soldados no sepulcro para o guardarem. De repente, abalou-se a terra e o Senhor ressuscitou e tais milagres se deram à volta do sepulcro que até os soldados que estavam de guarda podiam ser testemunhas, se quisessem dizer a verdade. Mas aquela avareza que seduziu o apóstolo de Cristo seduziu o guarda do sepulcro. Nós damos-vos dinheiro, dizem-lhes os judeus, e dizei que enquanto dormíeis vieram os discípulos e roubaram-no. Goraram-lhes os planos realmente. Que é que dizes tu, ó infeliz astúcia? É preciso que tenhas perdido toda a luz e mergulhado nas trevas da loucura, para nos vires dizer uma coisa destas: dizei que enquanto dormíeis vieram os discípulos e roubaram-no. Como! Chamas a depor testemunhas que viram a dormir. Tu é que estavas a dormir quando tais coisas urdiste...


sexta-feira, 6 de abril de 2012

DO TRATADO DE SANTO AGOSTINHO SOBRE OS SALMOS (63, 2)

Extraído do 2º Noturno de Matinas da Sexta-Feira Santa



4ª Lição

“Defendestes-me ó Deus, da conjuração dos homens e da multidão dos que operam a iniquidade”. Olhemos já agora com atenção para Aquele que é a nossa cabeça. Muitos mártires sofreram estas coisas, mas em nenhum alcançam tamanho relevo como no que é cabeça de todos eles. Aqui vemos melhor o que eles sofreram. Foi defendido da multidão dos homens perversos; defendeu-o Deus, defendeu-se ele mesmo que é Filho de Deus e homem, não abandonando o seu corpo. Porque Ele é ao tempo Filho do homem e Filho de Deus. Filho de Deus por causa da natureza divina; Filho do homem por causa da natureza humana de que se revestiu; tendo o poder de perder e recuperar a sua vida. Que lhe fizeram os inimigos? Mataram-lhe o corpo, mas não lhe mataram a alma. Reparai bem. Era pouco que o Senhor exortasse os mártires com palavras, se não desse o exemplo...


5ª Lição

Sabeis que conjuração era esta de judeus perversos e qual a multidão dos que operam a iniquidade. Que iniquidade? Porque quiseram matar Nosso Senhor Jesus Cristo. Realizei, diz, na vossa presença tantas obras boas, por qual delas me quereis matar? Acolheu com bondade todos os enfermos, curou os doentes, pregou o reino de Deus, não lhes calou os vícios, e isto devia-lhes inspirar ódio dos vícios e não do médico que lhos queria curar. Mas foram ingratos a tudo isto e como frenéticos e tomados de fúria selvática lançaram-se contra o médico que os viera curar e pensaram mata-lo, como para verificar com isto se era mortal ou algum super-homem inacessível aos golpes da morte. Salomão profetizou as palavras que eles disseram: condenemo-lo a uma morte infamante e vejamos se o que Ele diz é verdade. Se é o Filho de Deus, Deus que o livre...



6ª Lição

Aguçaram suas línguas contra mim como um gládio. Não digam os judeus: Não matamos Cristo. Com este fim O entregaram realmente nas mãos de Pilatos, para se darem por irresponsáveis da sua morte. Pois, quando lhes disse Pilatos que O matassem eles, responderam que não lhes era lícito matar ninguém. Queriam, pois, carregar o juiz com a maldade do seu crime. Mas poderiam eles iludir o Juiz eterno? Pilatos, porque praticou o crime, não pode por isso mesmo considerar-se inocente; mas ao lado deles merece muito mais condescendência. Tentou por quanto pôde arrancar-lho das mãos, e com este fim mandou-O flagelar. Não flagelou o Senhor por justiça, mas para ver se lhes saciava o furor e os abrandava e os levava a desistir do crime, vendo o Senhor flagelado. Fez isto. E porque eles persistiram, sabeis que lavou as mãos e se declarou irresponsável naquela morte. No entanto mandou-O matar. Mas se ele é réu, que matou o Senhor, coagido, eles são inocentes, que o obrigaram a dar-Lhe a morte? De modo nenhum. Ele proferiu a sentença e mandou-O crucificar, foi por assim dizer quem O matou; mas quem matou o Senhor realmente fostes vós, ó judeus. Com quê? Com a espada da língua, porque afiastes as vossas línguas. E quando O feristes? Quando gritastes: crucifica-o, crucifica-o...

domingo, 1 de abril de 2012

DOMINGO DE RAMOS

(Santo Afonso Maria de Ligório – Meditações)


I. Estando próximo o tempo da Paixão, o nosso Redentor parte de Betânia para fazer a sua entrada em Jerusalém. Contemplemos a humildade de Jesus Cristo, que, sendo o Rei do céu, quer entrar naquela cidade montado numa jumenta. – Ó Jerusalém, eis que o teu rei aí vem humilde e manso. Não temas que ele venha para reinar sobre ti ou apossar-se das tuas riquezas; porquanto vem a ti cheio de amor e piedade para te salvar e dar-te a vida pela sua morte.
Entretanto os habitantes da cidade, que, havia já tempos, o veneravam por causa de seus milagres, foram-lhe ao encontro. Uns estendem os seus mantos na entrada por onde passa, outros juncam o caminho, em honra de Jesus, com ramos de árvores. – Oh! Quem teria dito que o mesmo Senhor, acolhido agora com tanta demonstração de veneração, havia de passar por ali dentro em poucos dias como réu condenado à morte, com a cruz aos ombros!
Meu amado Jesus, quisestes fazer a vossa entrada tão gloriosa, a fim de que a vossa paixão e morte fosse tanto mais ignominiosa, quanto maior foi a honra então recebida. A cidade, ingrata, em poucos dias trocará os louvores que agora vos tributa, por injúrias e maldições. Hoje cantam: “Glória a vós, Filho de Davi, sede sempre bendito, porque vindes para nosso bem em nome do Senhor”. E depois levantarão a voz bradando: Tolle, tolle, crucifige eum – “Tira, tira, crucifica-o” (Jo. 19, 5). – Hoje tiram os próprios vestidos; então tirarão os vossos, para Vos açoutar e crucificar. Hoje cortam ramos e estendem-nos debaixo de vossos pés; então, tomarão ramos de espinheiro, para Vos ferir a cabeça. Hoje bendizem-Vos, e depois hão de cumular-Vos de contumélias e blasfêmias. – Eia, minha alma, chega-te a Jesus e dize-lhe com afeto e gratidão: Benedictus, qui venit in nomine Domini – “Bendito o que vem em nome do Senhor” (Mt. 21, 9).

II. Refere depois o Evangelista, que Jesus chegando perto da infeliz cidade de Jerusalém, ao vê-la, chorou sobre ela, pensando na sua ingratidão e próxima ruína. – Ah, meu Senhor, chorastes então sobre Jerusalém, mas chorastes também sobre a minha ingratidão e perdição; chorastes ao ver a ruína que eu a mim mesmo causava, expulsando-Vos de minha alma e obrigando-Vos a condenar-me ao inferno. Peço-Vos, deixai que eu chore, pois que a mim compete chorar ao lembrar-me da injúria que Vos
fiz ofendendo-Vos. Pai Eterno, pelas lágrimas que vosso Filho então derramou por mim, dai-me a dor de meus pecados, já que os detesto mais que qualquer outro mal e resolvido estou a amar-Vos para o futuro, de todo o coração.
Depois que Jesus entrou em Jerusalém, e se fatigou o dia todo na pregação e na cura de enfermos, quando chegou a noite, não houve quem o convidasse a descansar em sua casa; pelo que se viu obrigado a voltar para Betânia. – Santa Teresa considerando certa vez num Domingo de Ramos, naquela descortesia para com o seu divino Esposo, convidou-o humildemente a vir hospedar-se no seu pobre peito. Agradou-se o Senhor tanto do convite de sua esposa predileta, que, ao receber a sagrada Hóstia, afigurava-se à Santa que tinha a boca cheia de sangue vivo e ao mesmo tempo gozava uma doçura paradisíaca.
Também tu, meu irmão, dirige a Jesus, especialmente quando te aproximas da santa comunhão, o convite que venha hospedar-se em tua alma, de não sofrer mais. – E agora roga a Deus que, “tendo ele feito Nosso Senhor tomar carne e sofrer a morte de cruz, para dar ao gênero humano um exemplo de humildade para imitar, te conceda a graça de aproveitar os documentos de sua paciência e de alcançar a glória da ressurreição” (Or. Dom. cor.). – Recomenda-te também à intercessão da Virgem Maria.

(Meditações, Tomo I, Domingo de Ramos, pp. 392-395)