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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Curso de Teologia Dogmática - 3ª Aula


CURSO DE TEOLOGIA DOGMÁTICA

 3ª Aula – Da Criação – O mundo material

 (Antes de continuar, é bom que se faça um pequeno registro. As postagens referentes a este curso consistem em um pequenino resumo das aulas ministradas semanalmente aos membros do Grupo São Domingos. Assim, os assuntos tratados nessas aulas, bem longe de serem esgotados, tendem a incutir nos membros o desejo de pesquisas, as quais podem ser feitas usando uma singela coleção de livros disponível ao grupo).

A narrativa do Gênesis é uma síntese histórico-teológica que usa de linguagem popular com o fito de atingir o entendimento das pessoas. Ora, de nada adiantaria se o Espírito Santo inspirasse Moisés a tecer os pormenores de como se deu a criação dos elementos químicos e físicos, a estruturação das moléculas, enfim, a formação detalhada do micro e do macrocosmo, sabendo-se que esse conhecimento não seria aproveitado pelo povo escolhido, já que o objetivo era a sua instrução religiosa. Daí a referência a fenômenos da natureza segundo as suas aparências. E isso vemos em toda a Sagrada Escritura como, por exemplo, é dito que Deus parou o sol para que, prolongando o dia, Josué vencesse uma batalha. Aliás, passagem essa estultamente criticada por Galileu dizendo que Deus não poderia parar o sol já que a terra é que gira. Se assim o fosse devíamos banir de nosso vocabulário expressões como “o sol nasceu”; “o sol se pôs”; etc. Portanto, deve-se ter em mente que há correntemente o uso da linguagem popular não só no Gênesis, mas também em toda a Sagrada Escritura.



Deus fez o mundo em seis dias e descansou no sétimo.

A Sagrada Escritura mostra-nos que em um primeiro momento Deus criou a matéria de modo informe e vazia, isto é, não havia distinção em seus elementos e estava sem adorno: “A terra, porém, estava informe e vazia” (Gên. 1, 2). E neste primeiro momento (que é designado pela expressão “No princípio”), com efeito, foi criado o tempo, já que daí se inicia a enumeração dos dias e, pois, óbvia e logicamente, esta tem de ser posterior àquele. O movimento também é criado neste chamado primeiro momento. Assim, os seis dias são para formar ou distinguir a matéria e orná-la. Por conseguinte, Santo Tomás divide os seis dias em dois grupos: os três primeiros dias constituem a obra da Distinção e os outros três, a obra do Ornato.

Obra da Distinção

1º Dia: A luz é feita e ocorre a distinção entre ela e as trevas. Luz aqui não diz respeito ao sol que é obra do ornato. Mas, no dizer do Aquinate, significa tanto “a causa da manifestação no sentido da visão”, quanto “tudo o que causa a manifestação em qualquer conhecimento” (Cf. I, LXVII, ad. 1º).

2º Dia: Faz-se o firmamento e ocorre a distinção do que está na terra e o que está no espaço atmosférico. Dessa feita, também não se pode confundir aqui o objeto criado neste dia com o céu empíreo que foi criado antes.

3º Dia: Ocorre neste dia a congregação das águas, distinguindo estas do elemento árido, formando os mares, rios, lagos, etc.; e a criação das plantas que, segundo Santo Agostinho, trata-se de uma produção casual e não atual, ou seja, a terra recebeu potencialmente a capacidade de produzir “erva verde” (que irá aparecer na terra atualmente quando necessário a partir da criação dos animais, servindo também de ornato como as vestes do elemento árido), tendo em vista que, ao aderir ao elemento árido, tal criação busca a formação da terra.

Obra do Ornato

4º Dia: Foram feitos os astros, chamados de luzeiros. Ora, como foi dito, a matéria toda já tinha sido criada no primeiro momento, mas de modo informe e vazia. Assim, na verdade, os astros aqui foram como que aperfeiçoados recebendo o ornato, a decoração, a ordem. Nota-se que esse primeiro dia do Ornato refere-se ao primeiro da Distinção, pois orna aqui o que se distinguiu lá. Há de se observar também aqui que Moisés, segundo Santo Tomás (I, LXX, ad. 2º), ao narrar a criação do quarto dia, quis incutir no povo eleito a utilidade dos astros para o homem, com o intuito de desviá-lo da idolatria astral.

5º Dia: Neste ocorre a criação dos animais aquáticos e alados, ornando, portanto, o que foi distinguido no segundo dia da Distinção, a saber a terra e suas águas do firmamento e suas águas. Santo Agostinho ensina aqui também, como no 3º dia, que os peixes e as aves foram produzidos em potência.

6º Dia: Ornamento final da terra, os animais terrestres têm sua criação diferida da dos outros do quinto dia para mostrar sua superioridade aos daquele dia. Dá-se neste dia também a criação do Homem como que o coroamento do mundo visível.

O dia do descanso: De fato Deus descansou de sua obra. Como ensina o Aquinate, a bondade divina se move e se dirige para as coisas, tendo em vista se comunicar a estas. E como Deus cessou de criar no sétimo dia, esse movimento da bondade também cessou. Dessa forma, se diz que Deus descansou. Observe-se, porém, que Deus cessou de criar novos seres. Na verdade, Deus continuou e continua criando, atualizando os criados em potência, como as plantas do 3º dia e almas dos homens.

Criação do Homem

Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Obviamente isso se refere à alma humana, porque Deus não tem corpo; alma humana, portanto, é dotada de inteligência e vontade e, como tal, desfruta do livre arbítrio. Quanto à inteligência humana, se trata da mais ínfima forma intelectual, pois o homem conhece as coisas em partes, por etapas, indo da apreensão dos termos, dos conceitos, passando pelo juízo (juntando os conceitos) e chegando a uma conclusão, produto final da inteligência. Daí, dizemos que o homem raciocina; que o homem intelige compondo e dividindo. Diferentemente do anjo que vê “imediatamente, no próprio princípio, a verdade da conclusão” (S. Teol. I, LVII, ad. 4º).

Naturalmente, o homem é um ser composto de duas naturezas (matéria e espírito) e, pois, fadado à decomposição, isto é, à morte. Deus, porém, quis dotar o homem de qualidades acima de sua vida natural. Para isso, o dadivou com dons sobrenaturais – graça santificante, virtudes sobrenaturais, predestinação à visão beatífica – e dons preternaturais.

Estes últimos são:

Imortalidade → O homem não iria se decompor, não iria passar pela morte, o corpo não separaria da alma. Obviamente, quando se fala em imortalidade, estamos nos referindo ao corpo, pois a alma, sendo substância simples, una, já é imortal por natureza.

Impassividade → Não sentiria dores, não haveria doenças, nem cansaço físico. Quanto à dor, o homem a sentiria, como sempre sentiu, como forma de defesa do corpo, com o tato em algo cortante, por exemplo.

Integridade → Teria o domínio perfeito de si. As potências inferiores como as paixões, os apetites da carne, estariam totalmente submissos à inteligência.

Além desses, Adão e Eva também receberam o dom da Ciência infusa, pelo qual conheciam perfeitamente as coisas tanto na ordem religiosa, quanto moral. Isso para usar na tarefa de educadores da humanidade.
Assim é que nossos primeiros pais foram criados: em estado de inocência quanto ao pecado e em estado de justiça original quanto à santidade. E Deus colocou o homem para viver no paraíso terrestre.

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